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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Dear IV


Dia 10/07/99 – Dia cheio, pesado. Aquele dia que o seu maior desejo é isolar-se das pessoas. Entrar em um quarto escuro e ficar lá por tempo indeterminado. No fundo do poço. 

Chegou um buquê de rosas na minha faculdade com um envelope, também amarelo, destinado a mim. Era inevitável a alegria e a palpitação, porém, eu sabia letra por letra que estaria escrita naquela carta. Uma forma dele se esquivar da culpa, da dor, da minha dor. Mas eu ainda me perguntava: Por que um buquê de rosas? O que ele queria com isso. Sim, eu tinha certeza quem remetia aquela correspondência e as flores, que logo estariam murchas de tanta tristeza. Quando abracei as flores, inalei aquele perfume. Era o cheiro dele, aquele que tanto amava, aquele que já tinha esquecido fazia tempo. Lágrimas rolavam sob meu rosto, descontroladamente. Sentei-me no banco mais próximo e comecei a ler, de forma desatinada.


Minha Mag,

Não sei por onde começar.
Um pedido de perdão, poderia ser um bom começo, mas acho que não mereço tanto.

Durante oito anos nós fomos tão felizes juntos, nós éramos uma família. Você disse tudo.
Sabe Mag, após ler sua carta, seu desabafo, meu coração parou de bater por alguns segundos – foi essa a sensação que tive – senti câimbra nas mãos, braços e pernas. Chorei tanto, não pude me conter. Eu sei que errei muito com você. Percebi quando fez um mês que havíamos rompido. Hoje, faz seis anos que estamos separados. Engano seu quando diz que sempre foi uma garota imatura e inconseqüente, você sempre foi tão madura, Mag. Você sempre foi a base de tudo para mim. Nós discutíamos por besteiras todas as noites, você com seus ciúmes. Nunca dei motivos para isso. Fui tão imaturo que não pude perceber qual era o seu propósito, proteger com unhas e dentes o nosso relacionamento, o nosso amor. O erro foi nosso. Eu poderia ter sido um pouco coerente e maduro com aquela situação, poderia ter conversado com você e explicado tudo o que você já sabia. Ter percebido no teu semblante que você já não estava bem, já fazia algum tempo.
Pensando em tudo que você me disse, agora percebo. Você estava abatida. O que foi que houve meu amor? – Será que ainda tenho o direito de te chamar assim? - Fui bruto, grosso, estúpido, novamente inconseqüente, e todos os outros adjetivos pessimistas que mereço. Naquele momento eu não te amei como você merecia.

Você sempre foi melhor nas palavras do que eu, sempre soube expressar-se melhor, independente do tema.

 Neste momento eu não posso voltar até Iowa, tenho compromissos aqui em Michigan, mas quero muito poder ter a chance de olhar novamente nos seus olhos depois de tantos anos. Quero poder te abraçar e pedir perdão pelas minhas falhas e faltas, mas olhando no fundo dos seus lindos olhos castanhos.
Esse tempo todo, Mag, nenhum dia sequer eu parei de pensar em ti. Eu sei que você cumpre com todas as suas promessas, sei que você é uma mulher de caráter, íntegra, mas em momento algum eu deixei de te amar, minha princesa.

Espero vê-la em breve, na nossa casa.

Seu Joe.

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