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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Trecho de uma carta de amor III


A gente tem mesmo que passar por algumas dificuldades na vida para aceitar. Se aceitar. Ser aceito. Acertar. Ser e estar. É difícil viver, sabia? Desistir sempre parece mais fácil. Mas eu não quero isso para mim. Eu não quero desistir ainda que me passe isso pela cabeça quase todos os dias. Desistir da vida, das pessoas, das coisas. De tudo.
Sabe de uma coisa? Enquanto você estiver aí para receber esta carta e aqui comigo para chorar no meu ombro, eu posso, eu devo, eu vou e eu quero continuar. Carpe Diem – “quer dizer ‘colha o dia’. Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.”
Enquanto houver você do outro lado, aqui do outro eu consigo me orientar, já dizia O Teatro Mágico. Não importa a direção da cena. Invertida, contida, retida ou repetida. Não importa. Aquilo que outrora eu deixei de acreditar, enche a minha alma. Você. Você é o meu guia para que tudo siga numa reta, sem uso de réguas, por favor. Eu não gosto de caminhos novos, você bem sabe disso. Mas eu não suporto mais ainda a monotonia. A métrica. A perfeição. 

Eu gosto mesmo é de um bom drama. Emoção. Não vou negar que gosto das minhas coisas organizadas, mas é que eu estou sem tempo para organizar muita coisa. A minha vida, por exemplo, está de ponta à cabeça. Não sei nem onde começar a desatar esses malditos nós. Meu guarda roupa nem se fala. Pra achar alguma coisa ali, só com o tempo mesmo que elas vão aparecendo. Minha mochila eu arrumei outro dia, mas não adiantou muita coisa. De primeira, até me senti um pouco mais leve, mas voltou tudo como era antes.
Eu tenho mesmo é que passar por essa fase de minha vida – creio que seja uma fase – para depois tentar organizar as coisas. Mas não precisa se preocupar. Aqui dentro, você está guardadinho, tá? Aqui ninguém toca. Só quem arruma minhas bagunças sou eu. Mas aqui dentro é um pouco diferente. 

Antigamente andava uma loucura. Parecia o carnaval do Rio de Janeiro. Você não encontrava nada. Mas eu aprendi aos trancos e barrancos que não vale a pena deixar as coisas do coração se amontoar. Isso magoa mesmo sem querer magoar. Então, eu fiz uma faxina. Aquela das brabas mesmo. Hoje, cada um tem seu lugar exato. Cada qual com seu espaço e ninguém rouba o lugar de ninguém. Aqui dentro, meu amor, não tem espaço de sobra. Mas eu posso te contar um segredo? Você promete que não conta a ninguém? O espaço que tem pra você, é pouco, ainda que muito. O espaço que tem pra você, é pouco, ainda que muito. Nunca se esqueça disso.

Treco de uma carta de amor

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