A
gente tem mesmo que passar por algumas dificuldades na vida para aceitar. Se
aceitar. Ser aceito. Acertar. Ser e estar. É difícil viver, sabia? Desistir
sempre parece mais fácil. Mas eu não quero isso para mim. Eu não quero desistir
ainda que me passe isso pela cabeça quase todos os dias. Desistir da vida, das
pessoas, das coisas. De tudo.
Sabe
de uma coisa? Enquanto você estiver aí para receber esta carta e aqui comigo
para chorar no meu ombro, eu posso, eu devo, eu vou e eu quero continuar. Carpe
Diem – “quer dizer ‘colha o dia’.
Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não
pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.”
Enquanto
houver você do outro lado, aqui do outro eu consigo me orientar, já dizia O
Teatro Mágico. Não importa a direção da cena. Invertida, contida, retida ou repetida.
Não importa. Aquilo que outrora eu deixei de acreditar, enche a minha alma.
Você. Você é o meu guia para que tudo siga numa reta, sem uso de réguas, por
favor. Eu não gosto de caminhos novos, você bem sabe disso. Mas eu não suporto
mais ainda a monotonia. A métrica. A perfeição.
Eu
gosto mesmo é de um bom drama. Emoção. Não vou negar que gosto das minhas
coisas organizadas, mas é que eu estou sem tempo para organizar muita coisa. A
minha vida, por exemplo, está de ponta à cabeça. Não sei nem onde começar a
desatar esses malditos nós. Meu guarda roupa nem se fala. Pra achar alguma
coisa ali, só com o tempo mesmo que elas vão aparecendo. Minha mochila eu
arrumei outro dia, mas não adiantou muita coisa. De primeira, até me senti um
pouco mais leve, mas voltou tudo como era antes.
Eu
tenho mesmo é que passar por essa fase de minha vida – creio que seja uma fase –
para depois tentar organizar as coisas. Mas não precisa se preocupar. Aqui
dentro, você está guardadinho, tá? Aqui ninguém toca. Só quem arruma minhas
bagunças sou eu. Mas aqui dentro é um pouco diferente.
Antigamente
andava uma loucura. Parecia o carnaval do Rio de Janeiro. Você não encontrava
nada. Mas eu aprendi aos trancos e barrancos que não vale a pena deixar as
coisas do coração se amontoar. Isso magoa mesmo sem querer magoar. Então, eu
fiz uma faxina. Aquela das brabas mesmo. Hoje, cada um tem seu lugar exato.
Cada qual com seu espaço e ninguém rouba o lugar de ninguém. Aqui dentro, meu
amor, não tem espaço de sobra. Mas eu posso te contar um segredo? Você promete
que não conta a ninguém? O espaço que tem pra você, é pouco, ainda que
muito. O espaço que tem pra você, é pouco, ainda que muito. Nunca se esqueça disso.
Treco de uma carta de amor
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